sexta-feira, 3 de novembro de 2017

AINDA A DECLARAÇÃO UNILATERAL DA INDEPENDÊNCIA DA CATALUNHA



AINDA  A DECLARAÇÃO UNILATERAL DA INDEPENDÊNCIA DA CATALUNHA
2/11/17

                A primeira é a de que o Estado Espanhol deixou os eventos irem longe demais.
                Os independentistas avaliaram mal as circunstâncias e procederam imprudentemente, independentemente das razões históricas de revolta – que as existem.
                A coisa vai resolver-se por si, embora vá deixar marcas.
                As verdadeiras razões porque se deu esta erupção, hão-de vir a saber-se aos poucos – talvez vá passar pelos bancos de Andorra e da Suíça...
                Para o bem e para o mal o tal de Puigdemont vai acabar sem qualquer credibilidade – e agora, depois de ter arranjado um sarilho dos diabos para si e os restantes habitantes lá da terra, pira-se para a Bélgica (um país artificial, inventado pela Coroa Inglesa, na sequência do Congresso de Viena de 1815…) ao menor assomo de ameaça, abandonando tudo e todos à sua sorte!
              Imaginem se o D. João IV, após ter sido coroado Rei pegasse em si e emigrasse para Londres…
                Os povos europeus, cujos Estados agora estão muito receosos das aventuras nacionalistas, ir-se-ão dar conta que é o projecto federalista europeu e não os nacionalismos dormentes, que representa a maior ameaça à sua unidade, liberdade e soberania.
              Vai custar sangue, suor e lágrimas. E uma nota preta.
                                                                       *****
                Em Portugal há algumas vozes que se erguem para defender a Catalunha por causa do “apoio” que deram à Restauração Portuguesa de 1640.
                É um facto que até à união de Castela com Aragão, sobretudo a partir da junção de Castela e Leão, em 1230, que a coroa portuguesa pretendeu sempre “ensanduichar” Castela fazendo alianças, matrimónios ou outras, com Aragão, ou outras forças que se pudessem opôr ao centripetismo castelhano.
                Este “princípio estratégico” não é despiciendo, mesmo nos dias de hoje.
                Porém, em 1640, a realidade foi um pouco diferente.
                Não parece ter havido qualquer conluio entre a revolta da Catalunha e as forças portuguesas que pretendiam livrar-se da coroa dual filipina e passar a ter novamente um rei natural.
                Foi, aliás, a recusa da nobreza portuguesa em obedecer às ordens de Madrid (temos que agradecer ao Conde Duque Olivares…) que a mobilizava justamente para ir combater a revolta que estalara naquelas bandas, que foi, porventura, o verdadeiro rastilho que fez acelerar o levantamento que estalou a 1 de Dezembro de 1640.
                A monarquia espanhola já estava em decadência e tinha várias frentes e não podia acorrer em simultâneo a todas elas.
                Foi isso que tornou a oportunidade, para os conjurados portugueses, única, a não desperdiçar.
                Em termos realistas, as hipóteses de sucesso portuguesas não passariam de 10%; daí o arrojo da acção, mas o sentimento nacional português estava mesmo farto da usurpação filipina…
                Madrid considerou a revolta da Catalunha prioritária pôs-nos de “pousio” e concentrou as suas forças contra aquela.
                Isto deu-nos tempo para respirar e preparar, o que foi fatal para “nuestros hermanos”, que de irmãos têm tido muito pouco…
                Quem verdadeiramente tramou os catalães foram os franceses que lhes retiraram o apoio, depois de os terem incitado à revolta.
              Semelhante acção tentaram fazer com Portugal, após terem feito pazes com a Espanha, julgando-a enfraquecida o suficiente.
                Foi só nessa altura, ao tempo do infeliz e malogrado Rei Afonso VI – que devia ter sido impedido de reinar (por incapaz) – que o poderio militar espanhol se abateu sobre nós.
                Mas aí já o Conde de Castelo Melhor, que governava na vez do soberano, tinha preparado a defesa e os espanhóis morderam bastamente o pó e encharcaram-se em sangue.
                Não fora o desfecho de Montes Claros e hoje estaríamos a beber umas “canas” no Jardim do Retiro, em Madrid…
                E se julgam que a “velha Albion” é pérfida, por causa da sua diplomacia, párem um pouco a estudar a francesa e depois, acharão qual a pior.
                Convém lembrar estas coisas para não perdermos o Norte.
                                                                   *****
                Nos últimos dias fomos confrontados com declarações públicas do PCP e do BE, qual deles verberando mais, a acção do Governo de Madrid e apoiando a causa independentista catalã.
                A situação não surpreende, mas é lamentável.
                Em primeiro lugar porque a posição do país em questões prementes da política externa, deve ser veiculada pelos órgãos competentes do Estado. Estas devem ser objecto de discussão interna, mas não se deve passar para o exterior uma imagem de falta de coesão nacional relativamente a tais questões.
                O “internacionalismo “não se deve sobrepor ao que é nacional, e não podem ser toleradas “quintas colunas” na actuação do Estado.
                Por outro lado, esta actuação é mais uma prova da acção deletéria dos partidos políticos que nada tem a ver com o interesse nacional.
                Passando por cima da irresponsabilidade falhas de actuação costumeira do BE, que já o devia ter feito desaparecer há muito, a posição do PCP parece decalcada daquela que teve durante a Guerra Civil de Espanha, a qual não tem nada a ver com autodeterminação dos povos, mas sim com “internacionalismo proletário”. Ou seja, uma revolução marcadamente ideológica e transversal aos povos e Estados.
                Lembra-se, como exemplo, que o senhor Dr. Barreirinhas Cunhal, aparente controleiro do PCP, na altura, para a Armada deu ordem a um soviete de marinheiros para no dia 8 de Setembro de 1936, prenderam os oficiais dos Contratorpedeiros Dão e Afonso de Albuquerque e tentaram rumar a Espanha a fim de entregarem os navios à Esquadra Republicana a fim de se juntarem à luta das forças republicanas (apoiadas por Moscovo).
                Foram bombardeados (e bem!) pela artilharia dos Fortes de Almada e Alto Duque e renderam-se. [1]
                Os insurrectos foram enviados para a prisão do Tarrafal (construída no único local salubre da ilha) e por lá ficaram uns anos largos.
                Tal configurou um crime nítido de traição à Pátria, mas tal evento é hoje comemorado anualmente em Almada, junto a um monumento de má catadura, denominado de “Ao Marinheiro Insubmisso”, seguido de almoço e discursos.
                Alguns destes portentosos defensores da “liberdade” passaram a usufruir de pensões e condecorações pagas pelo dinheiro dos contribuintes.
                Estranho hábito, este, do actual regime político nacional que deve ser visto como “exótico” pelas nações civilizadas…
                Curiosamente nunca se viu o PCP ou o BE, preocupados em repudiar iberismos serôdios, tão pouco defender a retroacção da portuguesíssima Vila de Olivença, ilegalmente ocupada desde 1807, pelo poder de Madrid, à soberania portuguesa.
                Mas já não nos iremos surpreender se um dia destes vierem reivindicar a independência do Baixo Alentejo, com capital em Baleizão…
                                                                            *****
                Do mesmo modo que foi o PCP o primeiro grupo de indivíduos organizado que pôs em causa, logo após a sua fundação em 1920, e sobretudo após a II GM, a secular presença política de Portugal nas terras de além-mar. Fê-lo apoiado em alguma ideia de superior coturno?
                Não, apenas em obediência cega e acrítica aos ditames do “Comintern”, ou “Terceira Internacional Comunista”, que reunia todos os Partidos Comunistas dos diferentes países!
                Foram eles os primeiros a abrir brechas, neste âmbito, na coesão nacional.
                Andaram a defender interesses de outros em vez dos habitantes da sua própria terra.
                Isto costuma ter um nome.
                Por actuarem por normas com inteligência, embora previsivelmente, não chegam a arriscar disparates como é a norma, por exemplo, do pseudo-historiador Dr. Fernando Rosas, que destila ódio, mentiras e recalcamento cada vez que abre a boca (se um dia trinca a língua…).
                Por isso são mais perigosos.
                                                                              *****
                Finalizo com um desafio.
                Eis o que reza o artigo 308 do Código Penal, em vigor, (Lei nº 65/98, de 2 de Setembro), transcrevo:
                “Traição à Pátria”
                “Aquele que, por meio de usurpação ou abuso de funções de soberania:
a)      Tentar separar a Mãe-Pátria ou entregar a país estrangeiro ou submeter a soberania estrangeira todo o território português ou parte dele; ou
b)      Ofender ou puser em perigo a independência do país;
É punido com pena de prisão de 10 a 20anos.”
                Não sei qual foi a intenção do legislador, mas da versão anterior foram cortados vários artigos que especificavam diferentes situações, concentrando tudo no artigo 308.
                E, curiosamente, o próprio artigo 308 foi podado do termo “violência, ou ameaça de violência”, tornando-o mais abrangente.
                Ora se hoje em dia, por absurdo, alguns de nós, habitantes de uma parte do território nacional que nos resta, ousassem declarar a independência, como reagiria o Estado e o resto do País?
                Convinha estar atento a isto, apesar da Nação Portuguesa ser provavelmente a única no mundo (à excepção do Japão) que nunca teve problemas de coesão nacional, o que representa a nossa maior riqueza.
                Apesar de haver uns adiantados mentais que teimam em falar em regionalização, ninguém querer encarar o federalismo europeu como uma certeza de desaparecimento; de continuar a haver iberistas, burros como portas onduladas e uma tolerância cobardolas e irresponsável, com afirmações inadmissíveis de figuras gradas madeirenses, que em tempos ameaçaram, mesmo tendo em conta o excesso de ponchas emborcadas, com acenos de independência.
                É certo que apenas o fizeram para extorquir dinheiro ao contribuinte continental, mas em política não pode valer tudo.
                E não se deve brincar com coisas sérias.
                Ora a independência e soberania de uma Nação é o assunto mais sério e importante que a deve preocupar.
                    Coisa que anda muito esquecida por estas bandas.

                                                            João José Brandão Ferreira
                                                                  Oficial Piloto Aviador


[1] Transcreve-se um trecho da notável nota oficial de 10 de Setembro de 1936, assinada pelo Chefe do Governo de então:
                “Embora à custa do suor de todo um povo, com alegria e a clara consciência do dever se mandaram construir (os navios). Conscienciosamente os mandei pagar.
Com a mesma imperturbável serenidade dei ordem para que fossem bombardeados, até se renderem ou afundarem. A razão que se eleva acima de todos os sentimentos foi esta: os navios da Armada Portuguesa podem ser metidos no fundo; mas não podem içar outra bandeira que não seja a de Portugal…”.

1 comentário:

Manuel Álvares disse...

Creio que foi em 1936 que os marinheiros se revoltaram para ir para a Guerra de Espanha, prenderam os oficiais e o navio nem vapor tinha quando tentaram sair pela barra. Cometeram o erro de antes de partirem levar para terra um marinheiro que se fez de muito amigo e doente, mas depois avisou as autoridades que então deram ordem de fogo de artilharia sobre o navio, enquanto a GNR na margem disparava sobre os que vinham a nado para terra.

Não sei se foi dessa vez que os marinheiros foram "beber água à bica" do Príncipe Real... local onde se refugiaram até se renderem e onde ainda podem ser vistas as marcas dos disparos efectuados pela GNR.

O meu pai era marinheiro da marinha mercante e andou embarcado com o homem que se fez doente e fez a denúncia. Era tido em muita estima pelas autoridades, sendo convidado para almoços e jantares à chegada a muitos portos. Era também preciso ter cuidado com o que se dizia a bordo.

O meu pai nunca foi comunista, embora na altura estivesse convencido que os comunistas iam dominar o mundo. Nas suas viagens pelo globo verificou o nosso atraso em relação a outros países, tanto na metrópole como nas colónias,cujas maiores obras eram feitas pelos ingleses, por seu interesse: portos e caminhos de ferro. Por exemplo na Beira em Moçambique os navios portugueses nem tinham ordem de fundear no Porto, pois este era inglês e estes tinham a primazia; tendo os portugueses de fundear em bóias, onde só de manobra se perdia um dia. Já na Índia portuguesa a moeda que circulava correntemente era a libra inglesa e só mais tarde, quando começou a ir tropa em força é que começou a circular mais a moeda portuguesa.

Quando a União Indiana ameaçou tomar Goa, Damão e Diu andavam quadrilheiros pela rua cantando: "O Pirata do Neru não é nada para gente" para que se alistassem. Estes primeiros que foram para a Índia estiveram lá quase abandonados e quando foram rendidos... digamos que não passariam na revista. Isto foi-me desmentido por um estimado amigo oficial do Exército Português, moçambicano, filho de um governador de província, censor de serviço na Rádio Renascença no 25A. Mas o meu pai era embarcado e viu muitas destas coisas.

Nos navios mercantes havia sempre um informador para dar contas da vida a bordo, neste caso todos sabiam quem este era. Certa vez teve problemas e numa conversa à mesa teve de mudar o bico ao prego e dizer que Portugal era realmente o melhor do mundo para não ter problemas.

Em relação à Catalunha isto é um assunto interno de Espanha e não nos devemos meter. O Presidente esteve bem; Já o "2.º" 1.º ministro deu apoio incondicional à Espanha.

Em termos de simpatia é natural ter simpatia pelos catalães, cuja língua faz lembrar a nossa e cujo desejo de liberdade faz lembrar o nosso, mas sem o mesmo ímpeto... então declaram a independência e não retiram a bandeira espanhola do parlamento (talvez com receio de algum sniper castelhano) e parte dos dirigentes continuam a apresentar-se submissos às autoridades espanholas?

Os espanhóis sabem... se perdem a Catalunha podem perder muito mais... o "País" Basco, Baleares, Canárias... Galiza, Andaluzia, Astúrias... e ficam confinados a Castela. Mas o que é certo é que democracia e liberdade não estão a atar a bota com a perdigota...

A ver vamos, estamos no canto... levamos por tabela.