segunda-feira, 2 de setembro de 2013

ERROS NACIONAIS DRAMÁTICOS

“No antigo regime havia a exploração do homem pelo homem. Agora vai ser tudo ao contrário…”
Anónimo
 
Embora a confusão seja muita e o clamor mediático intenso, a maioria da população já se apercebeu das sérias dificuldades em que Portugal – e não “este país” – está metido, apesar da percepção da grandiosidade do desastre político/económico/financeiro/social e suas consequências futuras, resulte difusa e de compreensão assaz difícil.

Um sentimento existe já, e está consolidado: revolta e desconfiança relativamente a toda a classe política e descrença no sistema de justiça. Numa palavra, o Estado deixou de ser uma pessoa de bem.

A situação ainda não se tornou “explosiva” porque acreditamos existir um “má consciência” em grande parte da população por ter colaborado ou aproveitado, com o “sistema” e intuir ter sido complacente e descuidada relativamente a encolher os ombros a muita malfeitoria que foi sendo feita e saber perfeitamente que andava a usufruir de um nível de vida para o qual não existia correspondência com a riqueza produzida.

A “festa” acabou há três anos mas a austeridade está longe de estar a ser distribuída equitativamente.

Dirão os cínicos que o mundo nunca foi justo mas espero que os de boa vontade, queiram retorquir que não podemos ficar satisfeitos com isso.

Já muitas análises foram feitas sobre as causas e razões, tanto internas como internacionais, pelas quais chegámos ao poço sem fundo onde nos metemos, como país e como pessoas desse país, pelo que não iremos gastar mais cera com esse defunto.

Mas não posso deixar de frisar que se devem retirar sínteses de conhecimento do que se passou e que devem ser apuradas responsabilidades em todos os âmbitos adequados.

Para aprendermos algo para o futuro, exercer justiça e servir de exemplo.

Coisa que, até agora, ninguém com responsabilidades intentou fazer.

Dando-se conta de que a conjuntura já não permitia iludir a situação com os habituais passes de mágica demagógica; propaganda mediática e engenharia financeira, o governo do engenheiro (?) Sócrates - de cuja parte final da “crise” foi o principal responsável – resolveu pedir ajuda financeira ao exterior: ao FMI, ao BCE e à Comissão Europeia.

As razões porque foram pedir dinheiro a estes e não a outros, nunca foi devidamente explicado nem, até agora, se equacionou publicamente outras alternativas.

Quando se negociou com os enviados da “Troika” – obviamente, gente muito conhecedora da realidade nacional – cometeu-se um erro capital e, na sequência, um outro que individualizarei entre os muitos que me parecem existir.

Quando “alguém” deve dinheiro a alguém, seja pessoa singular, uma qualquer entidade ou um país (representado pelo seu governo) combina com o credor duas coisas: o juro, se algum, e o prazo, em “tranches” ou não, em que se efectuará o pagamento.

Ora o governo – se quisermos, o Estado Português – não fez nada disto, sujeitou-se aos juros (pagos à cabeça) e aos prazos que nos quiseram impor e não só isto: baixou-se a implementar medidas que nos sussurraram e acocorou-se a que, de quando – em - quando, lhe viessem espiolhar as contas e verificar os trabalhos de casa.

Mais ainda: sempre que necessário dobra a cerviz para receber umas palmatoadas e umas orelhas de burro.

Em 1928 um governo em pior situação político-social, também foi confrontado com exigências semelhantes por parte da Sociedade das Nações – a “Troika” da altura – mas ainda encontrou arrimo e dignidade para as recusar.

Aos actuais, apesar do buraco financeiro ser muito maior do que nos anos 20 – seria até interessante e ilustrativo comparar-se, seriamente, os números de então e de agora – e de já não haver uma “Lunda” onde ir buscar um saco de diamantes, nem devem ter parado o tempo de um pestanejar de olhos, para equacionar a hipótese…

Enfim, pequenas diferenças.

A partir deste pecado capital o país, que já tinha perdido a sua credibilidade e liberdade financeira passou, outrossim, a perder a sua liberdade política e económica. E o que mais adiante se verá.

A única diferença entre esta situação e ter uma esquadra inimiga a bloquear-nos os portos é que a fórmula adoptada dá menos nas vistas!

Acordada esta cavalidade-mor, outras se lhe seguiram em catadupa.

Nestas – embrulhadas na falta de liderança, exemplo e justiça – destaca-se o esbulho/confisco de parte dos vencimentos e pensões.

Este facto tem sido amplamente denunciado por parte de cidadãos, entidades e forças políticas, mas não se tem posto o enfâse num aspecto que é este: as medidas de austeridade e outras (sem excepções!) a estabelecer para combater a “crise” – de que os políticos são responsáveis a 90% - devem focalizar-se nos impostos (devendo estes incidirem prioritariamente no consumo e não no trabalho), e nos aumentos dos bens transacionáveis e não no corte/retenção daquilo que representa o valor retributivo do salário/pensão, fundamentais à vida e sobrevivência de todos os indivíduos/famílias.

Dá-se ainda um doce a quem apresentar um argumento válido para que, até agora, não se tenha apostado minimamente no empréstimo interno e o combate à fraude fiscal caminhe a passo de caracol…

Dirão novamente os cínicos, agora transvertidos em “pragmáticos”, que vai dar ao mesmo, mas tal não é verdade.

Ao cortar atrabiliariamente um vencimento/pensão (porquê 10% e não 20%, 30%, ou?), o Estado exerce uma prepotência tirânica sobre o cidadão – com a agravante de fazerem o contrário do que prometido nas campanhas eleitorais/programa de governo; quebra um vínculo de confiança contratual fundamental e cerceia calamitosamente a liberdade individual em dispor dos seus bens, conforme o seu juízo da situação.

Abre, ainda, portas para as mais indiscriminadas aleivosias despóticas, pois o que os pode impedir de, a seguir, confiscarem os bens não fiduciários das pessoas? Aliás já o andam a fazer com as casas, através do aumento escandaloso do IMI e da cada vez maior impossibilidade de cumprimento dos empréstimos bancários!

E que fazem com o dinheiro que nos sugam? Pois desbaratam-no nos negócios ruinosos em que foram agentes, colaboradores ou decisores e que agora o desgraçado do contribuinte tem que pagar!

Isto é verdadeiramente intolerável e nunca foi exercido em nenhuma época histórica mesmo por um ditador sanguinário sem que, ao menos, houvesse uma qualquer condenação!

A nós cidadãos acusam-nos de quê?

Mesmo os mais esclarecidos e sensatos compatriotas, não parecem reparar neste verdadeiro escândalo, idem para os comentadores encartados.

A população anda aturdida com a vida e tem deixado que a tratem como a rebanho de ovelhas, ao passo que o seu instinto de sobrevivência lhe vai dizendo que se aguente com as suas economias e a família, emigre e, ou, a esperar que seja a pessoa do lado que intente fazer algo que também a beneficie, sem correr riscos ou incómodos.

Mas as coisas não poderão continuar, apenas, nesta senda… 

Em síntese, o futuro próximo e a médio prazo do país, só nos reserva uma realidade que é a de sermos pobres (como se paga uma dívida exorbitante que aumenta milhões de euros por dia, não me dirão?).

Essa realidade, porém, tem duas vias: a de sermos pobres e escravos, ou sermos pobres e tentarmos reganhar o nosso espaço de liberdade e, com juízo, podermos dentro de umas poucas décadas, sermos razoavelmente livres e remediados. Não parece haver mais nenhuma via.

Pelo que se tem feito, a maioria da classe política optou, sem escrúpulo e decididamente, pela primeira hipótese e está a arrastar a Nação com ela.

Deixo-vos com Goethe “Ninguém é mais escravo sem esperança, do que aqueles que falsamente acreditam que são livres”.

2 comentários:

Anónimo disse...

Senhor Ten. Coronel,

Continue a escrever assim. Eles não ligam, mas um dia, quando houver uma surpresa, será apenas para eles...

Cumprimentos,
Miguel Sanches

Bilder disse...

"Em síntese, o futuro próximo e a médio prazo do país, só nos reserva uma realidade que é a de sermos pobres (como se paga uma dívida exorbitante que aumenta milhões de euros por dia, não me dirão?).

Essa realidade, porém, tem duas vias: a de sermos pobres e escravos, ou sermos pobres e tentarmos reganhar o nosso espaço de liberdade e, com juízo, podermos dentro de umas poucas décadas, sermos razoavelmente livres e remediados. Não parece haver mais nenhuma via.

Pelo que se tem feito, a maioria da classe política optou, sem escrúpulo e decididamente, pela primeira hipótese e está a arrastar a Nação com ela."---Ora nem mais!