terça-feira, 2 de outubro de 2012

UMA VISITA AO MUSEU DO AR

Avião Dragon Rapid e JU-52

O Museu do Ar, sito junto à Base Aérea 1, em Sintra, reabriu as suas portas depois de ter sofrido melhoramentos: está de cara lavada. Fomos ver.

Antes, porém, de passarmos o umbral da porta gostaríamos de realçar o seguinte:

Quando se pensou na mudança do Museu do Ar, de Alverca para as suas actuais instalações na Granja do Marquês (de Pombal), no município de Sintra, foi decidido juntar ao dito – finalmente dando crédito ao nome “do Ar” – a parte museológica da TAP e da ANA, o que veio trazer uma mais – valia ao conjunto.

Realça-se o facto porque representa um esforço de entendimento e colaboração entre entidades distintas, infelizmente pouco comum no nosso país. A ideia surtiu feliz e os (bons) resultados estão agora à vista de todos.

As obras efectuadas configuram algumas melhorias sensíveis e melhor seria impossível, dados os modestíssimos meios de que o Museu dispõe: preparou-se um novo hangar (já existente e cedido pela BA1), que permite a exposição de um número considerável de aeronaves e peças; recuperou-se um “Dakota”, da TAP e construiu-se um centro multimédia, com um “design” interessante.

Posto isto torna-se necessário dar a conhecer o Museu ao maior número de portugueses e estrangeiros, que for possível e – mais importante ainda – terá que se sensibilizar as diferentes “autoridades” para a importância de se finalizar os projectos ainda por acabar e de se fazer ainda um número considerável de outras coisas, que a História da Aviação em Portugal justifica e merece.

14 Bis de Santos Dumont (suspenso) e Dragon Rapid
O nosso país nunca foi uma grande potência na Aeronáutica (agora aeroespacial), mas tem o seu lugar modesto, mas honrado, que não desmerece e cujo “ranking” (se o houvesse) no conjunto das nações não nos deixaria mal colocados.

O Grupo dos Amigos do Museu do Ar pode ter, neste âmbito, um lugar importante e daqui se apela a que se torne visível.[1]

Dos projectos ainda por finalizar destaca-se a oficina para reparação de peças; a necessidade de dar protecção às aeronaves ainda sujeitas à inclemência do clima e de tornar o interior de vários aviões, visitável.

Quanto ao que falta (o trabalho num museu, aliás, nunca acaba), aparenta ser mais prioritário, e isto é apenas ideia nossa:
- A existência de uma sala/área dedicada ao armamento utilizado pela Força Aérea – pese embora o “politicamente correcto”, tem que se deixar bem claro que uma FA sem bombas/foguetes/canhões/misseis, etc., mal se distinguiria de um aeroclube ou de uma empresa civil, e era muito mais cara;
- As últimas campanhas ultramarinas (1954-1974) que representam a “maioridade” da Força Aérea, estão ainda fracamente tratadas e documentadas;
- A capacidade de criar interactivade com os visitantes é aquilo que mais separa o Museu do Ar da modernidade; é um passo em frente que urge dar, mas para isso é urgente aumentar os recursos humanos e financeiros disponíveis sem o que esse desiderato não será possível; a interactividade é fundamental para tornar o Museu do Ar uma realidade viva e apelativa, sobretudo para os mais jovens (e nisto estamos a incluir mais vídeos temáticos).

Avião Ju-52 e Beech AT-11
E, claro, há que dar uma maior expressão às tropas paraquedistas que foram criadas na Força Aérea, em 1955, e lá permaneceram dando muito boa conta de si, até 1994. E tal em nada põe em causa o museu que já existe, desde23 de Maio de 1990, na Escola de Tropas Paraquedistas, em Tancos.

Infelizmente ainda não existem condições para a existência de “polos” do Museu do Ar fora de Lisboa como seria desejável, como por exemplo na Ilha Terceira e na zona de Aveiro/Porto, como seria Espinho onde, em 1932, foi constituída a primeira carreira de tiro ar/chão, no nosso país. Mas é de todo indispensável conseguir salvaguardar pequenas relíquias da Aviação, como seja o que ainda resta na Academia Militar, na Amadora, das “Esquadrilhas de Aviação República”, e o edifício do Comando, em Vila Nova da Rainha, onde funcionou a primeira escola de pilotagem, em Portugal.

Avião Ju-52, réplica do Demoisele de Santos Dumont e DH Hornet
E assinalar devidamente todos os locais onde se produziram efemérides aeronáuticas, nomeadamente aqueles das partidas para as viagens aéreas dos anos 20 e 30.

Por outro lado é necessário chamar o máximo de visitantes ao Museu. A colaboração do Município de Sintra, que tem sido prestimosa neste âmbito, é fundamental, colocando-o nos roteiros turísticos e promovendo a vista de todas as escolas do Concelho o que deve ser extensivo ao País.

Como às vezes em “casa de ferreiro, espeto de pau”, não faz sentido que todas as escolas de pilotagem civis, aeroclubes, escolas ligadas às tecnologias da Aviação, etc., e por maioria de razão, todos os recrutas da Força Aérea (também dos outros Ramos das FAs), não passem pelo Museu numa visita guiada para todos os seus discentes e docentes…

Em complemento ao Museu do Ar podia-se equacionar uma visita, em circuito, à Base Aérea 1 e à Academia da FA, que lhe são adjacentes, o que permitiria não só uma excelente divulgação da actividade e da imagem da Força Aérea, ao mesmo tempo que garantia um pecúlio extra.

Um outro salto qualitativo para o Museu do Ar seria fazê-lo entrar na era espacial, organizando-se uma sala dedicada a esta área – que é uma fronteira do futuro – historiando o que já ocorreu com o satélite POSAT 1; a participação portuguesa no âmbito militar da UEO, UE e Nato e a participação do nosso país na Agência Espacial Europeia, não esquecendo a indústria nacional que trabalha neste particular.

Esta é uma área susceptivel de se conseguir apoios tipo mecenato.

Poder-se-ia pensar, ainda, numa sala dedicada às Oficinas Gerais de Material Aeronáutico, fundadas em 1918 e que, provavelmente, nunca deveriam ter deixado de pertencer à FA.

Beech AT-11 e Ju-52
Não insistimos neste ponto, porém, pois também nos parece bem, que as OGMA retenham o seu núcleo museológico (que tem dimensão para isso) minorando a “ferida” deixada na edilidade de Alverca pela transferência do Museu do Ar para Sintra, depois de tantos anos – desde 1968 – sito junto à estação da CP daquela cidade.

O mesmo se passa com a parte do Museu de Marinha dedicada à aeronáutica naval (que existiu entre 1917 e 1952), pois é já uma realidade consolidada e por a Armada ter voltado a ter meios aéreos além de que os marinheiros jamais me iriam perdoar…).

Para colmatar a falta de pessoal com que o Museu se debate, reforço a ideia (certamente já equacionada), de se tentar “recrutar” voluntários entre pessoal da Reserva e Reforma, entre os profissionais ligados à Aviação.

Sabemos perfeitamente que não somos um povo atreito a solidariedades comunitárias (a não ser quando há catástrofes) e que, por motivos vários, virámos uma sociedade de gente zangada. Mas há que porfiar e tentar mudar mentalidades pouco profícuas.

Para terminar não queremos deixar passar a oportunidade para evocar a morte, no pretérito dia 25 de Agosto, do astronauta Neil Armstrong, protagonista de uma das mais relevantes efemérides em toda a História da Humanidade: a primeira presença humana em solo lunar.

Devemos, todavia, recordar que a missão “Apolo” que permitiu tal feito levou uma réplica do sextante inventado pelo português, Almirante e sábio, Gago Coutinho em homenagem ao povo/aviadores portugueses.

Este acto devia constar, em lugar de honra, no Museu do Ar.



[1] Atente-se, por ex., ao trabalho do GAMMA – Grupo dos Amigos do Museu de Marinha

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