quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

MORREU O CEMGFA, VIVA O CEMGFA!...

Publicado no jornal "Públíco" de 20 de Fevereiro de 2011

Dia 7 de Fevereiro foi data de mudança de inquilino no sexto piso do edifício que alberga o Estado-Maior-General das FAs. Ou seja do respectivo chefe (CEMGFA). Sai o General Valença Pinto (VP) entra o General Luís Araújo.

O CEMGFA é a autoridade militar de maior graduação que preside a um de dois órgãos fundamentais definidos na actual legislação enformadora das relações político-militares: o Conselho de Chefes de Estado-Maior (cCEMs). O outro é o Conselho Superior Militar, onde se reúnem os quatro chefes militares com o Ministro da Defesa (MDN), que preside.

Estes dois órgãos são fundamentais para o bom funcionamento das Forças Armadas e para a correcta articulação com o poder executivo, em funções.

No primeiro órgão discutem-se, analisam-se, aprovam-se e fazem-se executar as principais linhas de orientação, para os três ramos sem prejuízo das competências próprias dos respectivos chefes; no segundo órgão encontra-se o nível estratégico e o conselho militar com a ideia política.

Sem querer entrar nas vantagens/inconvenientes e consequências da actual organização, pretendemos apenas fazer sobressair a importância e responsabilidade das funções das pessoas que ocupam os respectivos cargos. Porquê?

Por causa do modo como decorreu a cerimónia de despedida do general VP no passado dia 4/2, no Instituto de Estudos Superiores Militares (IESM), em Pedrouços.

Das notícias que vieram a público – e são essas que mais marcam a opinião publicada – ressaltou o carácter “informal” da cerimónia.

Ora não parece curial que se convide a nata da hierarquia militar para um IESM, para marcar oficialmente a despedida de um CEMGFA e se transforme o acto numa “informalidade”.

Para isso seria preferível marcar uma qualquer “happy hour” na messe. Mas o mais espantoso foram alguns dos termos usados pelo senhor ministro e a desenvoltura do tratamento com que mimoseou o homenageado, tratando-o pelo nome próprio, quase a roçar o “tu cá tu lá”. Parece que fizeram a recruta juntos!

No elogio, porém, o que realçou como qualidades, foram a “impaciência e a frontalidade”. A frontalidade é própria dos militares (ou deve ser), agora a impaciência? Impaciência quer dizer “pressa”, ”sofreguidão”, “inquietação”, “frenesim” e impaciente é aquele que é “falho de paciência”, “frenético”, “apressado”, “precipitado”. Ou seja tudo aquilo que nós não queremos que um chefe militar seja.

Terá o senhor ministro tido um “lapsus lingue”, estava no gozo, ou passado mal a noite? É que a seguir ainda referiu um “tique” do general que só a intimidade consente: “… um sinal físico que é a perna direita a começar a agitar-se”. E chamou “eloquente” a esse sinal. Informalidade?

O MDN referiu, aliás, que a “paciência” era um defeito do povo português. Esta afirmação é espantosa, sobretudo vindo de um possuidor de um doutoramento em sociologia (ainda por cima não obtida numa qualquer universidade independente).

A paciência só será um defeito quando confundida com “resignação” ou “conformismo”, não como significando “calma”, “conformidade” ou “perseverança tranquila”.

De facto já não há é paciência para ouvir tanto dislate…

Por último ficámos a saber que o Sr. MDN encara o agora ex–CEMGFA como a encarnação da concepção “moderna”, “democrática” e “cosmopolita”, com que quis caracterizar a Instituição FAs.

Estou elucidado: moderna, não quer em si dizer nada; democráticas as FAs não podem ser, pois não há eleições na tropa nem as decisões são obtidas através de votos; e espero que o termo “cosmopolita” não queira significar que os militares portugueses andam espalhados pelo mundo, deleteriamente, para verem e serem vistos…

Das palavras do general VP – também elas “informais” – quando nos congratulávamos em ouvir dizer a honra que tinha em pertencer ao Exército e a consciência do dever cumprido, topámos com a confissão de ainda estar à espera do despacho a um requerimento que fez, em 1973, quando era capitão, em que pedia a demissão de oficial do Exército “por querer um Portugal melhor”.

Afinal, sorte sua e azar nosso: se lhe tivessem deferido o papel não teria sido CEMGFA, mas talvez hoje o país estivesse, de facto, melhor, dadas as vicissitudes vividas.

É costume nestas ocasiões saudar quem sai e quem entra. Não levem a mal não o fazer mas vou esperar melhores dias. Dias em que as FAs, como Instituição, se voltem a dar ao respeito.

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